Agência FAPESP - Especialistas de diversos países estão reunidos no Rio de Janeiro para tratar de um problema de saúde pública que tem preocupado médicos e cientistas em todo o mundo: a resistência de microrganismos – bactérias, vírus e fungos – a medicamentos.
“Os microrganismos estão fazendo entre eles um intercâmbio de material genético de resistência. E se essa resistência representa um grande perigo para o homem, para eles significa evolução. Aqueles que sobrevivem são os mais resistentes e terão capacidade de continuar”, disse a bacteriologista Dália Rodrigues, chefe do laboratório de Referência Nacional de Enteroinfecções Bacterianas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), instituição organizadora do 3º Simpósio de Resistência aos Antimicrobianos, que ocorre até o dia 27 no Hotel Glória.
“Nas edições anteriores do simpósio, tratamos somente da resistência aos antibióticos. Desta vez, decidimos abrir a discussão para as resistências viral e fúngica. Atualmente, na infecção por fungos, as drogas usadas não têm surtido efeito. Quanto ao HIV, há também o problema da resistência do vírus aos anti-retrovirais, resistência que também é uma barreira em outros casos de infecção viral, como a hepatite B e o influenza”, explicou Dália.
O simpósio também terá a discussão de aspectos relativos ao H5N1, o vírus da gripe aviária. “O vírus da Ásia talvez já não seja o mesmo, talvez tenha sofrido mutações no ambiente. Isso é importante saber, caso ele migre para outro lugar”, avaliou Dália.
Segundo a pesquisadora, o objetivo não é centrar a discussão sobre as drogas resistentes aos microrganismos, mas sim avaliar o que médicos e cientistas podem fazer para mudar o quadro. “A salmonela, por exemplo, há alguns anos era sensível a todos os medicamentos. Hoje, ela é resistente a mais de 15 drogas”, disse.
A salmonelose, causada pela bactéria, é uma doença de transmissão alimentar que pode ilustrar o quão perto estão os micróbios dos seres humanos. “Doenças como essa podem ser adquiridas por meio de maus hábitos alimentares. Com a necessidade de comer na rua, o que garante que não estamos ingerindo ovos de parasita ou bactérias de trato intestinal em folhas de alface?”, questionou.
Um agravante do problema da resistência dos microrganismos a medicamentos é, segundo a chefe do laboratório de Referência Nacional de Enteroinfecções Bacterianas do IOC, causado pelo próprio homem: a automedicação.
“A pessoa se automedica, usa remédios de forma errada mais de uma vez e cria bactérias ou vírus resistentes àquela doença. O microrganismo é expelido no ambiente e passa a resistência a outro de sua espécie, que pode estar num alimento que será consumido por outra pessoa. Esse é o ciclo de transmissão de um microrganismo resistente”, alertou.
Washington Castilhos
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