Agência FAPESP - Pseudomona aeuroginosa, causadora de infecções respiratórias, especialmente no ambiente hospitalar. Escherichia coli, que provoca diarréia infantil. Campylobacter, também responsável por doenças intestinais.
Essas três são as bactérias mais resistentes a antibióticos na América do Sul, que tem um dos índices mais altos de resistência bacteriana em infecções hospitalares.
Nesse contexto, programas de vigilância têm sido fundamentais no controle da disseminação de bactérias multirresistentes. Programas como a Rede de Vigilância da Resistência aos Antibióticos nas Américas, implementada pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que avaliam a prevalência, o perfil da resistência, o modo de disseminação de bactérias resistentes, detectam o surgimento de novos tipos de resistência e caracterizam o seu mecanismo, entre outras ações.
“Com informações mais completas e uma melhor caracterização das bactérias, podemos determinar as medidas de controle mais adequadas para evitar a emergência e disseminação da resistência”, afirmou o médico argentino Gabriel Schmunis, da Opas, em entrevista à Agência FAPESP. Schmunis participa do 3º Simpósio de Resistência aos Antimicrobianos, que o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) realiza até sexta-feira (27/10), no Rio de Janeiro.
“A multirresistência é um problema mundial, com grandes impactos na morbidade e na mortalidade da população de um determinado país, até mesmo em sua economia. Na Nicarágua, por exemplo, um estudo nosso recente detectou um gasto de US$ 1,5 mil por paciente com pneumonia adquirida em um hospital”, disse.
Frente a esse problema, 18 países, entre os quais o Brasil, estabeleceram a Rede de Vigilância da Resistência aos Antibióticos nas Américas, identificando das bactérias mais sensíveis aos antimicrobianos às mais resistentes.
“O problema é que os antibióticos novos são mais caros. Além disso, estão ficando cada vez mais raros, devido ao seu alto custo e baixo retorno às indústrias que os produzem. Enquanto uma droga como o Viagra rende em vendas cerca de US$ 9 bilhões por ano, um antibiótico comum vende US$ 1,9 milhão”, comparou Schmunis.
Entre os fatores, apontados pelo pesquisador, que potencializam a ocorrência da multirresistência estão o uso irracional de medicamentos por parte da própria comunidade médica e o uso inadequado – a automedicação – por parte da população.
“Muitas vezes, ao ser lançado um remédio novo, os médicos o receitam aos pacientes imediatamente, sem conhecer a fundo seus efeitos. O resultado é que, muitas vezes, cria-se resistência a esse novo medicamento. Por outro lado, tratamentos incompletos também causam resistência”, alertou o médico da Opas.
Para Schmunis, uma das saídas para a automedicação seria permitir a venda dos antibióticos somente mediante a apresentação de receita médica, como é feito no Chile, na Costa Rica, em Cuba e na Venezuela. “Mas isso não pode ser feito em todos os países, pois nem todos garantem o acesso à saúde à população. E nem todas as pessoas podem pagar por um médico”, disse.
O pesquisador alertou ainda para o problema dos antibióticos alterados. “Tem que haver um controle rigoroso na qualidade dos medicamentos”, defendeu.
Washington Castilhos, do Rio de Janeiro
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