Agência FAPESP - A Science elegeu, em sua edição desta sexta-feira (21/12), as dez descobertas científicas mais importantes de 2007. Entre os principais feitos, a revista destacou descobertas relacionadas à variação genética humana, à reprogramação de células adultas e à origem dos raios cósmicos. Esta última teve participação importante de pesquisadores brasileiros.
Segundo a revista, a comunidade científica se surpreendeu com uma série de avanços nas pesquisas sobre o genoma humano que demonstram existir uma diferença muito maior do que se imaginava entre o DNA de diferentes pessoas.
"Por muitos anos temos ouvido sobre como as pessoas são idênticas entre elas e até em relação a outros primatas. Mas, neste ano, avanços em várias frentes levaram pela primeira vez a concluir que há uma grande diferença entre os genomas de cada indivíduo", disse o editor de ciências físicas da publicação, Robert Coontz, que coordenou o processo de seleção dos principais avanços do ano.
"É um imenso salto conceitual que afetará a vida humana desde como os médicos tratam as doenças até como nos vemos enquanto indivíduos", destacou.
Desde o seqüenciamento do genoma humano, os cientistas têm mapeado pequenas variações no genoma humano, que tiveram papel-chave em projetos de pesquisa em associação completa de genomas, realizados em 2007. Nesses projetos, pesquisadores compararam o DNA de milhares de indivíduos com e sem doenças para determinar quais das pequenas variações genéticas representam riscos.
Em segundo lugar entre os avanços científicos do ano, a revista apontou a tecnologia de reprogramação de células anunciada em junho. Na ocasião, pesquisadores do Japão e dos Estados Unidos criaram células-tronco pluripotentes induzidas, a partir da pele de camundongos, que poderiam ser utilizadas para produzir todos os tipos de tecidos do corpo. Em novembro, duas equipes anunciaram o mesmo feito com células da pele humanas.
Em terceiro lugar, a revista indicou a pesquisa realizada no Observatório Pierre Auger, na Argentina, que descobriu a proveniência dos raios cósmicos de alta energia - um dos maiores mistérios da astronomia. A pesquisa, que teve importante participação brasileira, sugere que os raios são emitidos a partir de áreas do espaço onde existem núcleos galácticos ativos, isto é, galáxias com buracos negros supermassivos em seu centro.
Em quarto lugar, a Science apontou a pesquisa que determinou a estrutura do receptor Beta2-adrenérgico humano, que regula os sistemas humanos internos ao carregar, pelo corpo, mensagens dos hormônios, serotonina e outras moléculas. Esses receptores são alvo para medicamentos que vão de anti-histamínicos a betabloqueadores.
Avanços na transição de óxidos metálicos ficaram em quinto lugar por seu potencial para viabilizar uma nova revolução dos materiais. Em 2007, diz a revista, equipes de cientistas utilizaram pares de óxidos para produzir interfaces com uma ampla gama de propriedades magnéticas e elétricas potencialmente úteis.
Em sexto lugar, foi lembrado o trabalho de físicos teóricos e experimentais que produziram o já previsto efeito Hall de rotação quântica, um comportamento singular de elétrons que fluem por meio de certos materiais submetidos a campos elétricos externos. Se esse efeito funcionar em temperatura ambiente, ele poderá levar ao desenvolvimento de um novo equipamento de computação "spintrônico" de baixa potência.
Em sétimo lugar, ficou a pesquisa sobre como células T que combatem vírus e tumores se especializam para fornecer proteção imediata ou de longo prazo. Os autores do trabalho descobriram que, quando se observa uma célula T logo após sua divisão, dois tipos diferentes de proteínas são gerados em pólos opostos da célula. De um lado, elas apresentam características de "soldados", e do outro de "células de memória", que podem esperar por anos para combater intrusos.
A revista lembrou ainda da pesquisa em síntese química que levou à uma série de técnicas eficientes e econômicas para o desenvolvimento de compostos farmacêuticos e eletrônicos.
Outro destaque foram estudos em humanos e ratos que sugerem que a memória e a imaginação têm seu substrato no hipocampo, um centro crítico de memória do cérebro. Os pesquisadores inferem que a memória no cérebro pode rearranjar experiências passadas para criar cenários futuros.
A décima conquista lembrada pela Science tratou de inteligência artificial: a solução do jogo de damas. Jonathan Schaeffer e seu grupo demonstraram que o jogo termina empatado se nenhum dos dois participantes comete erros.
Os dez mais do ano da Science podem ser lidos por assinantes da revista em
www.sciencemag.com